Os mais afoitos adotam um tom catastrofista e não perdem oportunidades em decretar a morte do jornalismo, dos jornais e de seus congêneres. Afinal de contas, as tiragens dos veículos impressos caem vertiginosamente e possibilitam previsões de um fim inexoravelmente próximo.
Mas não é novidade para ninguém que na contramão da crise jornalística, as demandas por informação só fazem crescer nesses novos tempos. Nunca escrevemos e lemos tanto quanto agora. Talvez seja o caso de questionarmos a qualidade do que se escreve, mas em relação a isso, só consigo enxergar novas oportunidades para quem faz das letras parte de seu ofício.
Como muitos especialistas já observaram, a internet subverteu o processo de comunicação ao oferecer alternativas ao discurso de mão única. Vivenciamos uma realidade na qual não temos apenas um emissor gerando conteúdo para uma massa passiva. Atualmente, a internet permite que todos gerem conteúdo para todos e que cada um consiga interagir e replicar conteúdos indefinidamente.
Com isso, o fato é que os veículos de massa perderam parte de sua “autoridade” como geradores exclusivos de informação. Tais veículos passaram a ser mais questionados, mais confrontados e, por fim, preteridos por outras plataformas de gestação de notícias.
Mas com tal profusão de informações rodando o planeta, nunca tivemos tão carentes de organizadores do caos. É por isso que jornais e jornalistas ainda podem almejar alguma relevância. Mas, tanto uns, quanto outros precisam entender que seus papéis diante da nova realidade sofrerão profundas transformações.
Os jornais, por exemplo, precisam entender que seu velho modelo de negócio faliu. O jornal cada vez mais será um produto de nicho, voltado para públicos cada vez mais específicos. A maioria já entendeu isso, mas reluta em adotar modelos compatíveis, pois isso implica em profundas transformações dos mesmos enquanto empresas.
Creio que já não veremos mega corporações jornalísticas como há vinte, trinta, quarenta anos atrás. O valor de mercado dos maiores jornais do mundo hoje fica muito aquém do valor de uma start up promissora recém-saída do quarto de um adolescente. Tal qual a indústria fonográfica, a indústria jornalística talvez não volte a viver anos tão dourados.
Mas é possível sim reinventar a “roda”, gerar novos produtos, novos valores, conquistar novos públicos e voltar a ter relevância tanto mercadológica, quanto ideológica. Para tanto, é preciso abrir mão de antigos modelos e se conscientizar de que, para se reinventar, muitos negócios terão que até mesmo morrer, para renascer sobre novos pilares.
Os jornalistas e demais profissionais de comunicação também precisam entender que um novo momento está em curso. A internet não está aí apenas para facilitar nossas pesquisas a partir do Google. Os profissionais que se acomodarem perante as facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias estarão fadados ao insucesso.
As escolas e os novos profissionais precisam entender que o mercado atual demanda um profissional multidisciplinar, que esteja apto a gerenciar processos de comunicação. O novo jornalista vai muito além do lead.
É por isso, que acredito que, quando todos os protagonistas desse processo estiverem conscientes do novo momento, uma outra realidade poderá ser vivenciada. Mas tenho certeza de que isso não se dará sem sangue, suor e lágrimas.
Com certeza, muitos perecerão e ficarão pelo caminho. Mas aos que sobreviverem, talvez se apresente a oportunidade única de fazer história.