O 31º Congresso Mundial dos Jornalistas, realizado entre 31 de maio e 3 de junho em Mascate, capital do Omã, aprovou duas moções brasileiras, que receberão o apoio da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ). Uma, de repúdio às agressões de Jair Bolsonaro a jornalistas e suas ameaças à democracia, na qual a Federação se comprometeu a apoiar iniciativas em defesa dos jornalistas que acontecerão durante o período eleitoral brasileiro. A outra, em apoio ao jornalista Rubens Valente, condenado a indenizar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, demandará apoio da Federação Internacional na apelação do jornalista junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) foi responsável por apresentar as moções brasileiras no evento e foi representada por sua presidente, Maria José Braga, e pelo vice-presidente, Paulo Zocchi.
A avaliação de Zocchi, diretor do SJSP, é de que o Congresso foi positivo e que a participação brasileira foi muito importante.
Mais de 40 propostas de ações foram aprovadas para a FIJ e suas entidades filiadas, sendo cinco da América Latina.
Debates importantes
O Congresso da FIJ debateu diferentes assuntos, nos quais os jornalistas se confrontam em nível mundial, como a crescente violência contra a categoria e a necessidade de defendê-los, com especial destaque ao assassinato da jornalista palestina Shireen Abu Aqleh pelas tropas de Israel. Os sindicatos presentes debateram como avançar na defesa dos jornalistas de modo geral.
Além disso, o Brasil teve a oportunidade de tomar conhecimento da campanha mundial em curso contra a extradição de Julian Assange para os Estados Unidos. Devido ao seu legítimo trabalho jornalístico de divulgação de informações de interesse público, obtidas com técnicas jornalísticas, ou seja, por meio de uma fonte, com checagem da autenticidade das informações que, por serem verdadeiras, foram divulgadas, a defesa de Assange é uma questão premente em defesa do jornalismo.
“A perseguição de Assange pelo governo dos Estados Unidos, que considera que ele violou segredos de segurança nacional e o acusa de crime, pedindo sua extradição para prendê-lo de maneira permanente é um atentado e uma censura aberta ao trabalho jornalístico e, por isso, um tema de importância mundial no qual o conjunto de sindicatos está diretamente envolvido”, avalia Zocchi.
O Congresso abordou ainda a crise do jornalismo em função das guerras, com especial destaque à guerra da Ucrânia. O tema apresentou diferentes posições de como abordar o problema. De acordo com Paulo Zocchi, representante da delegação brasileira, o impacto da guerra é tão grande no conjunto da sociedade e dos trabalhadores a nível internacional, que ainda há muito a se avançar na temática. Segundo ele, o consenso centrou-se na intransigente defesa dos jornalistas, no repúdio às mortes de profissionais de imprensa durante a guerra da Ucrânia e a posição contrária à censura de informações e meios de comunicação, dando uma base de como o debate a respeito do tema deve prosseguir.
Nas questões das lutas sindicais, o evento abordou as mobilizações da categoria que obtiveram êxito, com especial destaque à participação da Argentina por meio da federação argentina, a Fatpren. A entidade trouxe o relato de uma longa greve que impediu demissões em uma emissora pública argentina e preservou os empregos e o funcionamento da emissora.
Sob nova direção
Houve, durante o Congresso, a formação e eleição da nova direção do Comitê de Gênero da FIJ, que passa a integrar o conselho diretivo da Federação Internacional.
Conselho de Gênero da FIJ reunido em Omã
Para Zocchi, acompanhar a discussão do comitê foi muito rico e interessante por evidenciar que os problemas que atingem as mulheres jornalistas são mundiais e se repetem em todos os continentes, nas mais diferentes realidades, sociedades e países. Infelizmente, diversas entidades relataram casos de assédio contra jornalistas, bem como a dificuldade em evoluir na carreira. “É uma narrativa de problemas semelhantes atingindo o conjunto de mulheres jornalistas e que levou a uma discussão de como avançar no enfrentamento desse quadro”, disse Zocchi.
O Congresso fez uma importante renovação da direção. Maria José Braga, presidenta da FENAJ, foi reconduzida a um próximo mandato entre os membros do conselho executivo, por meio de uma votação expressiva. Braga foi a segunda mais votada.
A jornalista francesa Dominique Pradalié é a nova presidenta da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) e a peruana Zuliana Lainez, a primeira vice-presidente (sênior); o inglês Jim Boumelha foi eleito para a tesouraria, e, para as outras duas vices-presidências foram eleitas a indiana Sabina Indrejit e o palestino Abu Baker Nasser.
O próximo congresso da entidade será, excepcionalmente, em 2026 para que se comemore o centenário da organização.
Fonte: SJPSP